15 maio, 2010

TEMPESTADE DE VERÃO


O sol vermelho surgindo por detrás da montanha cobria a terra com um manto cor de rosa. O mar, muito quieto, estranhamente calmo, lembrava um espelho de cristal. O movimento das embarcações ancoradas na baía era imperceptível.
Mais um lindo dia de verão. Calorento e convidativo a um “dolce far niente” à beira mar.
A chegada de uma imensa nuvem cinza, trazida pelo vento, o ar quente e parado e a excessiva calmaria do mar prenunciavam um desfecho inesperado para aquele dia .
Ia cair uma tempestade.
E não demorou. A transformação foi rápida e violenta.
De repente a noite se instalou. A sinfonia de trovões teve início, orquestrando o mais assustador espetáculo pirotécnico que se pode imaginar. O vento, cada vez mais furioso, parecia querer destruir tudo que oferecesse a menor resistência.
Então ela caiu...Uma chuva torrencial e desorientada.
Desde menina aprendi a respeitar as forças da natureza. Respeitar e temer. Refugiava-me na cama, rezando e pedindo a todos os santos que acalmassem os elementos. Desta vez, porém, não senti medo. Uma emoção inexplicável tomou conta de mim. Descobri que uma tempestade, apesar de ser um fenômeno amedrontador, é também maravilhosa se a olharmos atenta e detalhadamente.
Do meu posto de observação pude apreciar a maluca coreografia que o vento provocava. Árvores enormes ou pequenos arbustos, transformados em bailarinos loucos e frenéticos, pareciam não se cansar. A cena, caótica à primeira vista, seguia um script e cada qual sabia o papel a desempenhar. Não havia resistência e isso era o que mais chamava a atenção. Galhos e troncos curvavam-se até um certo limite e quando estavam prestes a se quebrarem, voltavam cantando e dançando à posição original. E de novo se curvavam, agora para o lado oposto.
E as folhas.. .que valentia! 
Agarradas aos galhos balançavam perigosamente. Algumas sucumbiam . Soltavam-se e fatalmente se afogavam. Era triste vê-las carregadas para longe e depois, amontoadas e esquecidas. Mas no sacrifício, cediam lugar à folhagem nova, mais resistente, que um dia teria o mesmo fim. Era o ciclo da vida.
E tão depressa como começou, também acabou.
O sol voltou mais brilhante, como se tivesse sido purificado pela dádiva que é uma tempestade de Verão.

Sonia Rocha – Mercuriana

3 comentários:

  1. É inevitável o ciclo da vida, tudo tem seu tempo certo. Nada dura para sempre, devemos aproveitar e apreciar cada momento vivido...
    bjux

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  2. Mercuriana,deixei um selinho em meu blog pra vc colocar aqui na sua casa ela merece!Desejo um final de semana repleto de luz amiga!

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  3. Este é o ciclo da vida a que estamos sujeitos, independente de qual reino fizermos parte.
    Nascer, crescer e morrer.
    Esta é a lei natural das coisaa.
    Mas que maneira linda de colocar tudo isto.
    Parabéns pelo texto!
    Abraços!

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