20 outubro, 2012


QUEM SOU?
Se alguém lhe perguntar “Quem é você?”, o que vai ouvir como resposta? 
Seu nome, endereço, profissão, estado civil, cor, religião...
Tudo bem, concordo que estamos reduzidos a essas informações e, principalmente a números. Número de CPF, RG, conta bancária, cartão do SUS, e por aí vai. 
Dizer quem somos é uma tarefa difícil. Não temos o costume de nos avaliarmos e por isso, poucos conseguem responder de outra forma.
Na verdade, o que ocorre é que somos “julgados” a todo momento pela opinião pública. Somos o que nos permitimos ser, aos olhos dos outros. Se estamos felizes, sorrindo, contando piadas, somos bacanas. Ao contrário, se estamos tristes, cabisbaixos, o rótulo vem na sequencia, somos pessoas negativas, prá baixo.
Então, como ser autêntico se o referencial é sempre o outro? É sempre de fora para dentro?
Saber quem somos, o que queremos e o que podemos esperar dos outros é uma tarefa bem difícil. Uma tarefa que exige exercício constante de auto observação, reflexão e, principalmente, sensibilidade para olhar o outro como um meio que me auxilia na busca de mim mesmo. O outro é um espelho mas nem sempre me reflete corretamente. Uma imagem espelhada é sempre refletida do lado contrário.
Recebemos uma enorme e pesada carga de informação, diariamente, e mal temos tempo para processá-las. Mas temos de reservar um tempo para essa viagem cujo destino é um encontro com nossa essência. Sem mapas ou, para ser atual, um GPS, que possam nos conduzir para dentro de nós mesmos, podemos, ao menos, traçar um roteiro:
1. lembre de tudo que já viveu, ou, pelo menos, do que foi mais marcante;
2. lembre de como reagiu;
3. pense se reagiria da mesma forma hoje;
4. escreva num papel, o que foi mais importante e o que é mais importante em sua vida hoje;
5. peça feedback para as pessoas com quem convive e para outras com quem se relaciona em situações específicas (trabalho, escola, lazer...);
6. seja auto-crítico sem ser carrasco de si mesmo.
Ao final, pergunte-se? Sou quem eu gostaria de ser?
Se a resposta for sim, aprimore-se. Se a resposta for não, pergunte-se “o que devo mudar?”.
Está aí a porta a ser aberta.
Sonia Rocha – Mercuriana

14 outubro, 2012


CONSELHOS PARA QUEM VIVE RECLAMANDO DA VIDA


Se não gosta de clichês – não leia
Vai Ler?  Por sua conta e risco 

“A gente só colhe o que planta”. Não plante, ninguém te obriga!
“Ninguém tem o que não merece”. Se liga, você está tendo apenas o que merece! 
“A vingança é um prato que se come frio”. Saia do regime, já! 
“Quem desdenha quer comprar”. Comece a guardar dinheiro! 
“Sofre muito menos, quem  aprende à custa dos erros alheios”. Comece a prestar mais atenção à vida alheia! 
“Se  você cair 7 vezes, levante-se 8”. Compre uma caixa de band-aids ou uma joelheira! 
“Nem tudo que reluz é ouro”. Pare de comprar bijuterias! 
“Só percebemos o valor da água depois que a fonte seca”. Acabe com essa mania de banho todo dia...economize água! 
“Nunca é tão fácil se perder como quando se julga conhecer o caminho”. Compre logo um GPS. 
“Aqui se faz, aqui se paga”. Pare de gastar por conta!
“As aparências enganam”. Tire a máscara! 
“Cada cabeça, uma sentença”. Vá ler e aumentar seu vocabulário! 
“Cada coisa a seu tempo”. Não se mova, espere! 
“Cada macaco no seu galho”. Mantenha seu macaco magro senão você fica sem macaco e sem galho!
“Cão que ladra não morde”. Não se preocupe, cão só morde quando fecha a boca! 
“De moeda em moeda se faz uma fortuna”. Tenha paciência, em 2096 você estará milionário! 
“Devagar se vai longe”. Prá que pressa? Em 2096 você chega lá e milionário! 
“Desgraça pouco é bobagem”. Se é pouca, prá que se preocupar? 
“Dia de muito, véspera de pouco”. Pule o dia seguinte! 
“Dizei-me com quem andas e eu te direi quem és”. Pare de contar com quem andas! 
“É melhor não cutucar a onça com vara curta”. Pare de cutucar a onça. Onça é onça, cuidado! 
“É na necessidade que se conhece o amigo”. Pare de passar necessidade! 
“Em boca fechada não entra mosca”. Dê-se por feliz. Mosca é o de menos. Pior é ter de engolir sapo. 
“Em casa de ferreiro, espeto de pau”. Conforme-se, pau não enferruja! 
“Falar é prata, calar é ouro”. Fique mudo e faça parte da lista dos 10 mais da Forbes! 
“Nada como um dia após o outro”. Agradeça. Pior seria não ter o outro dia! 
“Não adianta chorar sobre o leite derramado”. Lembre-se, o sal das lágrimas azeda o leite. Melhor limpar a sujeira, rápido! 
“Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe”. Podia ser você. Antes o bem ou o mal! 
“Não há marcas que o tempo não apague”. Compre uma borracha e dê uma folga ao tempo! 
“Nunca puxe o tapete dos outros, afinal você também pode estar em cima dele”. Faça um estágio no Circo de Soleil! 
“Os últimos serão os primeiros”. Mantenha-se sempre no último lugar da fila! 
“Pense duas vezes antes de agir”. Pense mais, 535 vezes, assim não precisa fazer nada, nunca! 
“Pense rápido, fale devagar”. Aprenda a correr atrás do seu cérebro! 
‘Quem tem pressa come cru”. Coma antes que acabe. Melhor comer cru do que passar fome! 
“Quem tudo quer, tudo perde”. Não queira coisa alguma, assim não perde nada! 
“Um homem prevenido vale por dois”. Prefira um desprevenido e dê Graças a Deus. 
“Se conselho fosse bom, estaria à venda”. Conselho: (censurado)!!!! 
Sonia Rocha - Mercuriana


13 outubro, 2012


                                   

MANUAL DAS INCOERÊNCIAS

Sou incoerente! Levei um susto quando percebi essa minha faceta. Pensei e ponderei. Descobri que somos incoerentes e egoístas quando se trata das nossas vontades e necessidades. Reclamamos quando algo dá errado e nem percebemos que errado é tudo que não corresponde às nossas expectativas. Nem consideramos a hipótese de que pode ser o certo para alguém, alem de nós. E geralmente é.
Dizem:  “Deus escreve certo por linhas tortas”. Quem nunca ouviu? "Vox Populi Vox Dei". Sempre detestei clichês e olha eu aqui citando um após outro...que ironia! O fato é que comecei a respeitá-los. Comecei a observar o quanto nossas incoerências nos deixam cegos. E o resultado foi esse pequeno Manual. 
Podemos começar dizendo que...
                      

Não tem nada mais irritante do que...


...alguém do seu lado atender um celular e você ser obrigado a ouvir toda a conversa, inclusive a fala de quem está do outro lado da ligação...
...você atender o celular e ter alguém do seu lado ouvindo tudo, inclusive a fala de quem está do outro lado da ligação... 
 
...procurar a chave de casa, dentro da bolsa (só para mulheres)...
...encontrar a chave, na primeira enfiada de mão  e descobrir que pegou a chave errada... 

...tentar achar o celular dentro da bolsa, antes que pare de tocar (só para mulheres)...
...encontrar o celular a tempo de atender uma chamada e do outro lado alguém dizer “oi Beth” e o seu nome é Regina... 

...dar de cara com o (a) ex e ele (a) fazer de conta que não te conhece...
...dar de cara com o (a) ex e ele (a) te abraçar e te beijar como se fossem velhos amigos... 

...o telefone tocar na hora em que você está fritando o seu jantar...
...esperar o telefone tocar e ele continuar mudo, mudo, mudo... 

...encontrar migalhas de pão no pote de manteiga...
...cortar o pão, encher a mesa de migalhas e descobrir que a manteiga acabou...

...alguém ficar te pegando, cutucando, falando com você a menos de 5 centímetros de distância,  enquanto bate papo...
...aquele gato que você quer conquistar, dar um oi, acenando, do outro lado da avenida... 

...depois de todos os ingredientes estarem misturados na tigela, você descobre que falta um e não tem em casa...
...fazer aquela receita fabulosa, que acabou com a dúzia de ovos que estava na geladeira, e o resultado ficar intragável... 

...descobrir que está falando sozinho, há mais de meia hora, porque a ligação caiu e você não percebeu...
...ter de ouvir sua melhor amiga, se lamentando porque o namorado a deixou (todo mundo já esperava por isso). Se pelo menos, a ligação caísse... 

..sair de casa com botas de camurça e começar a chover...
...não ter uma bota de camurça, que está na última moda... 

...alguém te ceder o banco no ônibus, quando você tem só 30 anos, e ainda dizer “senhora, senta aqui”... 
...ninguém ter a delicadeza de ceder o banco no ônibus, quando você tá podre de cansada... 

...ouvir um “fica calma, relaxa!” quando você está no auge da irritação!...
...ninguém te dizer uma palavra de consolo quando você mais precisa... 

...assistir um filme de 3 horas e no final perceber que não entendeu patavina...
...não ter nenhum filme prá assistir quando tem de ficar em casa porque tá sem grana prá sair...

...encontrar a conta de luz, perdida, no dia seguinte ao vencimento...
...não encontrar a conta de luz e ter de pedir segunda via pela Internet... 

...precisar daquele documento que você guardou por 10 anos e descobrir que  jogou fora no último  surto de triagem na papelada, há apenas 2 dias...
...finalmente precisar daquele documento guardado por 10 anos, que você não jogou fora no último surto de triagem da papelada, ver que era cópia de fax e as letras sumiram... 

...visitar alguém que tem um tapete na porta dizendo “Seja bem-vindo mas limpe os pés”...
...receber uma visita, com os sapatos sujos de lama, depois de um dia inteiro limpando a casa...

...sininhos de vento, quando está ventando...
...sininhos de vento que ficam mudos porque não tem vento... 

...barulho (qualquer um) quando você quer silêncio...
...silêncio, quando você quer barulho (qualquer um)... 

...prestar um concurso público, ficar em terceiro lugar e só ter 2 vagas...
...ser aprovada em concurso público e ser chamada depois de ter arrumado um emprego muito melhor, na iniciativa privada... 

...teu chefe te mandar ao banco e chegando lá ter 30 pessoas na sua frente...
...com a senha de número 31 na bolsa, você sair prá tomar um café e na volta descobrir que seu número já foi chamado... 

...ter de escolher entre fazer um xixi ou perder o ônibus para o trabalho...
...escolher pegar o ônibus, chegar no ponto e esperar 25 minutos porque o ônibus está atrasado...

...alguém com  fones enfiados no ouvido, cara de paisagem, cantarolando uma música que você não ouve...
...descobrir que você tem 5 horas de viagem pela frente, ouvindo uma conversa chata com o cidadão ao seu lado... 

...ligar seu computador e ver que sua caixa de mensagens está vazia...
...ligar seu computador e ver que sua caixa de mensagens está abarrotada de PPS melosos... 

...acordar cedo e descobrir que não precisa ir trabalhar porque é feriado...
...dormir até tarde, porque é feriado, e lembrar que  devia acordar mais cedo para fazer seu mercado do mês... 

...encontrar aquela pessoa, que fala pelos cotovelos, e nunca deixa você falar...
...encontrar aquela pessoa, que fala pelos cotovelos, e ela te ignorar... 

...ter uma ideia original sobre um determinado assunto e não conseguir anotá-la por falta de papel e caneta...
...conseguir escrever sua ideia original e descobrir que já foi colocada em prática por 38 pessoas que tiveram a mesma ideia original... 
 
...ir ao cabeleireiro, amansar o rebelde e sair do salão com uma garoa persistente, sem guarda chuva...
... ir ao cabeleireiro, amansar o rebelde e ninguém te chamar para um programa... 

...organizar um programa para seus 10 melhores amigos, no único espaço disponível - sua varanda de frente para o mar. Começar a chover e todos se amontoarem na minúscula sala do seu apê...
 ...organizar um programa para seus 10 melhores amigos, no único espaço disponível - sua varanda de frente para o mar. Começar a chover, você recolher tudo, transferir o programa para a sala, e ninguém aparecer por causa da chuva ...
 
Sonia Rocha – Mercuriana 

12 outubro, 2012


De dentro prá fora


Outro dia recebi uma dessas mensagens que circulam pela Internet dizendo “ A boca fala do que o coração está cheio” ilustrada com muitos coraçõezinhos saindo de uma boca. Evidente que a mensagem queria dizer que do coração só sai sentimento bom.
Aí me peguei pensando que, na verdade, só sai o que está dentro, seja do coração, cérebro ou outro órgão qualquer. E nem sempre é coisa boa. Mas vou me ater à ideia inicial, cuja conotação se refere aos sentimentos. Lembrei-me de uma amiga que se manteve, durante anos, num casamento com um marido alcoólatra (ou alcoólico, como preferem atualmente). No ápice das crises, era surrada verbalmente, ouvia queixas, acusações, cobranças e, como parte do jogo, replicava, se defendia, atacava. Ao final da crise, passado o efeito do álcool, ambos faziam o “mea-culpa”, alegando que não estavam em seus estados normais. Não estavam e nem poderiam, mas tudo que saiu de suas bocas estava dentro, em algum lugar, armazenado, estocado. Dados salvados para uso quando fossem necessários. Por isso não acredito nessas desculpas esfarrapadas:
" eu bebi...eu perdi a noção...foi sem querer, etc.."
Sei de muitos casos assim. Entre pessoas que compartilham um relacionamento, seja amoroso, profissional, de amizade, familiar. As discordâncias levam as pessoas a guardarem para uso futuro, as frustrações, as broncas caladas, os sapos engolidos.
E assim é para evitar confrontos com as pessoas que amamos. Deixar passar é se iludir. É achar que o esquecimento apaga o sentimento. Nem uma coisa nem outra. Pessoas feridas não esquecem e sentimento não se desmancha no ar.
O que entra estragado é munição que só vai servir para contra-atacar naquela hora imprópria, quando o álcool libera o superego ou o pote-está-até-aqui-de-mágoa.
A minha amiga e seu companheiro buscaram ajuda profissional e hoje vivem um dia após o outro tentando sincronizar os passos. As ofensas verbais foram substituídas por conversas francas, escancaradas, quando cada um fala do que não está bem. Não existe um céu de brigadeiro mas, pelo menos, a lixeira é esvaziada assim que o lixo é depositado. É difícil, porém necessário. Mesmo porque amar não significa gostar de tudo, aprovar tudo que o outro nos dá. Assim como é possível gostar sem amar, também é possível amar sem gostar. Que fique claro, amamos a pessoa mas não gostamos de algumas de suas atitudes. E isso tem de ser falado. Ninguém, seja lá quem for, tem a obrigação de nos adivinhar. Talvez isso explique o porquê  nossa fúria, descontentamento e raivas, recaiam sempre sobre os nossos queridos.
Quando nossas diferenças batem de frente com quem não nos interessa, botamos a boca no mundo e extravasamos, deixamos sair tudo que está dentro. Não guardamos. Damos de ombros e saímos andando, nos sentindo mais leves e, geralmente, de alma lavada.
Sonia Rocha – Mercuriana